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Batman | Como Tom King vem quebrando o homem-morcego de um jeito jamais visto


Batman de Tom King é o mais "humano e sofredor" de todos até aqui.

Batman já foi quebrado ao meio. Quase que literalmente!

No fim da "sanidade" que os anos 90 teve, o homem-morcego foi quebrado ao meio pelo até então, enigmático vilão chamado Bane, no início de um grande arco que se chamará "A queda do Morcego". Em uma época em que a publicidade nos quadrinhos engatinhava para a bolha que estourou com a internet, a Queda do Morcego foi um grande evento mercadológico e criativo para a DC Comics, que estava literalmente aleijando seu maior produto, ao menos financeiramente falando. Era um alto risco, mas no mundo dos quadrinhos, você já sabe. Nada que meia dúzia de páginas não mudem.


E a saga foi publicada exatamente como o editorial queria, impactante, grande e relevante de fato, o mato do morcego passou para seu primeiro pupilo, Dick Grayson, e depois para Azrael, que interpretava um Batman bem mais violento, como quase tudo que virou moda nos anos 90, e pereceu, dando vida ao antigo Bruce Wayne, agora renovado de sua lesão, e do interesse do leitor.

E a "morte" ou inabilidade virou moda. Nos anos 2000 foi a vez de nada menos que Grant Morrison matar o Batman, em uma saga que durou quase 6 anos á frente de diversos títulos do homem-morcego, mas que como quase tudo, não agradou todo mundo.

E agora vem Tom King, o escritor, ex-agente da CIA, vem causando reboliço em toda a indústria dos quadrinhos, mas agradando em novidade e qualidade, quase que perfeitamente.

Tom King vem quebrando o homem-morcego, mas não da maneira habitual. Apesar do escritor escolher Bane como seu vilão central na maioria dos arcos, o embate aqui é muito além do físico (apesar do físico pegar pesado em suas edições), e sim psicológico.

Batman está fragilizado por todos os acontecimentos de sua vida, com uma grande bagagem que ultrapassa a fase dos novos 52 em muitos casos, e se vê em uma situação que jamais havia encarado: A necessidade de ser feliz. Bruce Wayne é apenas um ser humano, e uma hora sua luta irá cessar, mesmo que contra sua vontade, seu corpo e mente são mortais, e mais cedo ou mais tarde, Bruce morrerá. E por mais que não lute mais contra sua cede por justiça, ele encara que ser apenas o Cruzado Encapuzado não é o suficiente.

E em um ato tão humano quanto o de qualquer leitor, o protagonista vai atrás do que nos faz sentir mais vivo. O amor. Bruce pede Selina Kyle em casamento, e o mundo todo se chocou com o que poderia acontecer.

A notícia chegou até o New York Times, e todos esperavam para o casamento finalmente acontecer, enquanto King tecia toda o profundo relacionamento que ambos personagens teriam daqui para frente, vários arcos com ambos personagens atuando lado a lado chegavam cada vez mais nas bancas, mostrando a nova face de Bruce Wayne, mais leve, se permitindo amar e ser amado, e nos fazendo questionar se aquele menino órfão finalmente seria feliz novamente. O personagem lutou, se entregou, mas foi em uma narrativa de uma aventura passada aonde ele foi mais vulnerável e sincero como jamais havia sido.

No aclamado arco "A guerra das piadas e charadas" Bruce Wayne conta para Selina sua maior vergonha.

Em um cenário semelhante, mas mais aterrador que em Guerra Civil, da Marvel, Gotham City se vê no meio de uma guerra de egos entre duas das mentes mais brilhantes do crime, e ninguém seria poupado para mostram quem mandava em Gotham: Charada ou Coringa.

E entre batalhas épicas e filosóficas, chegamos á conclusão do arco e sabemos que toda a intenção desta guerra era que o Charada fizesse o Coringa risse novamente.

Após vidas, crianças, mulheres, homens, inocentes, perderem suas vidas no meio de todo o caos estabelecido pelos vilões, o Batman perde seu norte. E a reação do homem-morcego foi de uma ferocidade jamais vista.

Batman tenta matar o Charada, e a única coisa que o impediu de ultrapassar sua maior regra foi a mão de seu maior inimigo, a mão do Coringa. E ao meio de tanta vulnerabilidade e sinceridade, Selina pede para que Bruce a proponha em casamento novamente, apenas para aceitar e mostrar que nada mudaria em relação ao amor dos dois.

O casamento ainda não foi publicado no Brasil, mas todos nós (ou quase todos) tomamos o SPOILER do New York Times de que...

ALERTA DE SPOILER!


...de que Bruce seria deixado no altar por Selina Kyle.


E assim King destrói qualquer chance que um homem tão traumatizado á ponto de dedicar toda sua vida adulta á luta contra o crime, de ser feliz.

Toda a narrativa do autor é tangível e palpável, apesar de estarmos nos referindo á quadrinhos e sua cultura infanto-juvenil, o que deixa a sua obra ainda mais valiosa. Uma abordagem tão adulta e recorrente na vida adulta de dezenas de milhares de seres humanos é reproduzida em um personagem inalcançável, tanto em moral quanto em conquistas, o Batman é o mais perto que todos nós seremos de sermos um super-herói, e mesmo assim é inalcançável, e ver algo assim tão perto de nossos dramas é algo raramente visto em hq´s de super-heróis.

O "run" de Tom King já acumula 53 edições americanas, e o ex-agente da CIA promete mais 50 edições, totalizando 103 em seu arco, o que conclui que podemos esperar mais reviravoltas neste amor, e na vida conturbada do Batman. Atualmente nos USA, o arco coloca a religião de Bruce Wayne em pauta, mas isto é assunto para outro texto. Não deixe de comentar o que vem achando do arco do King no morcegão, interagindo em nossas redes sociais!




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