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Precisamos discutir (elogiar) sobre Tom King.


Tom King sempre me pareceu nome de escritor famoso, seja talvez pelo "real" nome "King", ou pela percepção que sempre deixou em seus anos iniciais, de que tinha realmente um grande talento para a coisa. E agora com pouco mais de 5 anos de casa na DC, o escritor se consagra como um dos melhores da atualidade, senão o melhor.

Seu quadrinho em pauta aqui é especificamente o Batman, mas não deixamos de frisar seu talento em Grayson, e no atual Homem-Milagre, são duas obras muito bem escritas, sendo a segunda uma história ainda em atividade, e inédita no Brasil, portanto não entrarei no mérito dela, e sim, falarei apenas de Batman, e de como o escritor mudou totalmente os paradigmas que os leitores da fase longeva de Snyder esperavam.

Recapitulando rapidamente, Snyder é um grande escritor da atualidade, e que detêm o estilo mais "noventista" de, bom, desde os anos noventa. Sua narrativa é fluida e interessante, escreve bons diálogos, dá voz aos personagens, mas quase sempre se inclina a finais grandiosos demais, e com uma peculiar paixão por robôs gigantes, o que de fato, não combina muito com o clima detetivesco das histórias do Morcegão, mas que durou 5 anos em seu quadrinho. Quanto aos robôs, prove-me que estou errado!

Em seu último arco de histórias, Snyder "reviveu" um Brunce Wayne sem memórias, devido os acontecimentos do arco "Endgame" e trouxe o "melhor" Batman de todos os tempos, com sua mente e corpo no auge, alcançando um ápice quase sobre-humano (vide a polêmica do "meta-humano"), deixando-nos a imaginar que King faria um Batman extremamente porradeiro, overpower e fodão, algo que fatalmente já vimos um zilhão de vezes, mas que claramente, não abaixou meu ânimo.

E logo em sua primeira edição, o escritor ex agente da CIA, narra um Batman "laçando e cavalgando" um avião prestes a cair no mar de Gotham City. Ou seja, expectativas confirmadas? Não, longe disso. Após o seu arco mais fraco até então, "Eu sou Gotham" (Que mesmo assim cria personagens interessantes e detêm uma narrativa de qualidade) King começa a nos presentear com um o Batman mais humano de todos os tempos, ou pelo menos o Batman mais humano que eu já li. E o arco "Eu sou suicida" monstra bem isso, primeiro o autor acerta categoricamente em trabalhar o relacionamento de décadas de Bruce e Selina Kyle, mas não faz isso com o clichê comum das hq´s, de heróis se juntando contra uma ameaça maior. Aqui o personagem usa todo o preparo que os fãs adoram, e se junta não com seus amigos, e aliados, e sim com prisioneiros de Arkham, trazendo um humor peculiar e divertidíssimo a história, que flui como poucas. Trabalhar muito bem com personagens como o Scarface, (Ou apenas seu "alter-ego", Weskler) e desconstrói o personagem Bane de uma maneira nunca vista antes, deixando-o muito mais interessante do que em sua "versão" criada nos anos 90. Mas não é na ação que King brilha, apensar de ser excepcional nas situações de adrenalina, o desenvolvimento e relação entre os personagens é sem dúvida o ponto alto de seu argumento. A teoria de que Selina Kyle é a única pessoa que entende Bruce Wayne como Batman e como super-herói, dividindo de suas motivações, e de sua vontade incontrolável de procurar justiça, mesmo que por meios diferentes, é uma das traduções mais bonitas do drama do Batman, o órfão garoto, traumatizado e perturbado que tentou antes de lutar contra o crime, desistir de tudo e se suicidar, humanizando ainda mais o mais humano dos super-heróis.

O arco em duas partes, "Telhados" é uma homenagem á toda uma cronologia de Batman e Mulher-Gato na DC, que aquece o coração do mais antigo leitor, e situa os mais novos de uma maneira brilhante e bonita, que é claro, é potencializada ainda mais pela arte de Mitch Geralds, que despensa comentários.

Estamos agora ás vésperas do arco "Eu sou Bane", que promete mais impacto ainda na vida do homem-morcego, e de Bruce Wayne. Uma vida que há muito tempo não era escrita tão bem, trabalhando tanto o lado heroico como o lago humano desse personagem, que muita vezes é esquecido como tal, mas que é o herói literalmente mais humano de todos.


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